sexta-feira, 16 de maio de 2014

Como trabalhar com projetos didáticos na alfabetização

Para ensinar a ler e escrever, é preciso elaborar projetos didáticos que realmente estimulem os alunos a refletir sobre a escrita e a leitura


Foto: Marcos Rosa

Produtos finais belíssimos necessariamente não sinalizam projetos escolares bem-sucedidos. Mais do que ficar contentes e orgulhosas do que fizeram, as crianças têm de alcançar os objetivos traçados pelo educador. Ele, por sua vez, tem de saber defini-los com clareza, priorizando a aprendizagem de todos e não só uma boa apresentação para a família e a comunidade. 

Nas turmas de alfabetização, uma das prioridades é ensinar a ler e escrever convencionalmente e de modo relacionado às práticas sociais, certo? Então, o foco principal de qualquer projeto precisa ser, obrigatoriamente, a análise e a reflexão sobre o sistema de escrita e a aquisição da linguagem usada para escrever. Aliás, trabalhar seguindo os parâmetros dessa modalidade organizativa contribui e muito para que a turma avance. Isso porque, ao definir um tema, o professor assegura o contato dos alunos com determinado grupo de palavras por um tempo. Isso permite criar a familiaridade com os termos e explorá-los bastante com o objetivo de construir novos saberes. Quanto maior a proximidade do estudante com o campo semântico trabalhado e a quantidade de informações adquiridas no contato com outras palavras, mais claras serão as chances de ele analisar as palavras e antecipar o que está escrito. No caso de um projeto sobre princesas, por exemplo, há a certeza de que vocábulos desse universo - como princesa, bruxa e castelo - serão recorrentes, assim como o gênero que costuma ser usado para apresentá-lo: o conto. Além do mais, articular propostas de leitura e escrita em um projeto cria muitas oportunidades para o grupo se vincular de maneira pessoal e compartilhada com fontes informativas.

O tema do projeto elaborado por Milca dos Santos, educadora da EE Professor João Caetano da Rocha, em Itápolis, a 365 quilômetros de São Paulo, foram receitas tradicionais de Festas Juninas. A atenção dela não estava focada em finalizar o livro com ingredientes e instruções para preparar quitutes de época. O objetivo era fazer com que os alunos do 2º ano aprendessem muito durante o percurso, avançando cada vez mais em direção à escrita alfabética (ltomando como apoio e referência as palavras próprias daquele assunto e a organização do gênero receita. Essa clareza lhe rendeu o título de Educador Nota 10 do Prêmio Victor Civita em 2009. "Milca soube organizar uma rotina que contemplasse o projeto sem deixar que as etapas de leitura e produção de texto passassem longe das situações de reflexão do sistema de escrita", explica Débora Rana, selecionadora do prêmio e formadora do Instituto Avisa Lá, na capital paulista.



Galeria de bruxas



- Avançar no conhecimento da linguagem escrita e na aquisição da leitura e da escrita convencional.
- Aproximar os alunos de autores contemporâneos e clássicos, com textos informativos e obras literárias.

Conteúdos
- Leitura.
- Escrita.

Anos1º e 2º anos

Tempo estimado
Sete aulas.

Material necessário
Livros de contos sobre bruxas, como A Bruxa Salomé (Audrey Wood, 32 págs., Ed. Ática, tel. 11/3990-2100, 23,90 reais) e As Férias da Bruxa Onilda (Enric Larreula e Roser Capdevila, 32 págs., Ed. Scipione, tel. 0800-16-1700, 22,90).

Flexibilização para deficiência auditiva
Acrescente trechos de filmes ou desenhos que retratem bruxas de tipos variados.

Desenvolvimento
1ª etapa
Selecione contos que tenham bruxas como personagens principais. Durante duas ou três semanas, incorpore nas atividades permanentes a leitura em voz alta desses textos. Discuta com a turma que sensações elas despertam e quais relações é possível fazer com contos já conhecidos. Releia trechos para confirmar as interpretações, retomar parte da história ou notar a maneira como o trecho foi escrito. Direcione a conversa para a bruxa em questão: como é o comportamento dela? Quais suas qualidades e seus defeitos? Peça que citem os recursos usados para gerar suspense e medo, por exemplo.

Flexibilização para deficiência auditiva
Solicite que a família e o AEE conversem com o aluno sobre o assunto, usando a linguagem de libras ou materiais como livros, jogos, brinquedos e outras formas de ampliar seu conhecimento sobre bruxas. 

2ª etapa
Organize uma tabela para ficar exposta na sala com três colunas. Nomeie cada uma delas: título do livro, nome da bruxa e caracaterísticas. A ideia é que as crianças a completem com as informações pedidas ao fim de cada leitura e que você seja o escriba. Colabore para que elas encontrem não só as características descritas mas também as implícitas. Esse quadro também deve ser usado para promover desafios de leitura e de escrita: oriente, por exemplo, que localizem o que está escrito em algum trecho e o copiem.

Flexibilização para deficiência auditiva
Fale sempre de frente para o aluno, explique cada item, levando-o próximo à tabela. Proponha a parceria dos colegas para que, junto a uma dupla, complete a tabela.
 
3ª etapa
Proponha que, em dupla, os alunos escrevam informações importantes sobre as bruxas, considerando todos os textos lidos. Esse procedimento é próprio de leitores e escritores experientes, que organizam a informação que consideram conveniente registrar. Levante algumas perguntas que podem ajudar: onde vivem as bruxas? Com quem convivem? Elas se casam? Existem bruxas boas?

Flexibilização para deficiência auditiva
Estimule a parceria dos colegas, revezando-os para que se sentem ao lado do aluno e esclareçam as dúvidas.

4ª etapa
Convide o grupo a criar uma galeria de bruxas para expor à comunidade escolar. Proponha que ditem coletivamente um texto sobre o que aprenderam a respeito das bruxas até então. Permita que nesse momento as crianças tenham os contos para consultar e confirmar dados e ver como as informações são escritas.

Flexibilização para deficiência auditiva
Antecipe essa atividade para ser desenvolvida com o AEE, que pode ser o escriba das ideias desse aluno. E ele poderá levar o registro escrito dessas ideias e participar da produção do texto coletivo.

5ª etapa
Reúna os alunos em duplas e proponha que elaborem um texto, com o foco na descrição de uma bruxa. É importante que antes sejam eleitas as informações para caracterizá-las, como nome, aspecto físico e personalidade. No momento da escrita, deve ser discutido como colocar as informações, quais palavras e expressões usar e pensar em problemas da separação das palavras e, no caso dos alunos alfabéticos, na ortografia. Cada dupla também deve desenhar a bruxa.

Flexibilização para deficiência auditiva
Antecipe a primeira parte dessa atividade para ser realizada junto ao AEE da mesma maneira que na etapa anterior. Forme uma dupla com um aluno mais competente na escrita e solicite que este fale sempre de frente para o amigo e conte com sua participação na produção do texto.

6ª etapa
Escolha alguns textos com problemas de escrita recorrentes - como o escasso uso de recursos descritivos - para discuti-los com a turma. Depois, devolva-os e oriente a revisão. Os alunos das duplas devem se alternar para reescrever o texto definitivo. Sugira também que finalizem o desenho. Reúna os trabalhos escritos e as ilustrações e monte a galeria em algum lugar de destaque na escola.

Flexibilização para deficiência auditiva
Se o aluno ainda não estiver alfabético, combine com a dupla que ela não fará alternância na reescrita do texto, mas o aluno que tem surdez terá de trabalhar mais na organização para a atividade.

Produto final
Galeria de bruxas.

Avaliação
Ao longo do projeto, note se os alunos mostram preferências de estilos, autor e temas, relacionam o que estão lendo com outros livros e opinam sobre as obras lidas. No momento da escrita, veja se planejam o texto e o revisam. Também analise se confrontam suas concepções sobre o sistema de escrita e se avançaram em relação à escrita convencional.



Fonte: 
Projeto didático El Mundo de las Brujas, da Direção Provincial de Educação Primária, da Direção Geral de Cultura e Educação de Buenos Aires, na Argentina.

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