sexta-feira, 16 de maio de 2014

O que é música?


A música está intimamente ligada às tradições e à cultura das sociedades na história. Compreender esta linguagem é chave para construir a sensibilidade
Crianças tocam chocalhos e outros instrumentos de percussão
No dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o termo música é definido como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras que variam conforme a época e a civilização. No âmbito da Educação Musical, contudo, a música deve ser entendida como linguagem artística, imprescindível para a formação humana dos alunos. As composições, interpretações e improvisações que comumente chamamos de "músicas" são, na verdade, produtos desta linguagem.

Aprender música na escola significa, portanto, aprender a se expressar por meio dos sons e desenvolver habilidades como o canto, a execução instrumental, a audição e a improvisação sonora. O desafio, agora, é considerar toda essa diversidade da produção musical brasileira e mundial (que está em discos, filmes, na internet, nas canções, ou no som puro da voz e dos instrumentos) e leva-la para a sala de aula de maneira planejada.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, para que a aprendizagem de música faça sentido na formação cultural e cidadã dos alunos desde as séries iniciais, é necessário que todos tenham oportunidades para participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores de sequências rítmicas, dentro e fora da sala de aula. Diz o documento: "A escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores talentosos ou músicos profissionais. (...) Ela pode proporcionar condições para uma apreciação rica e ampla, onde o aluno aprenda a valorizar os momentos importantes em que a música se inscreve no tempo e na história".

A música já é um conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica, ministrado por professores especialistas ou unidocentes. É o que determina a Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008, que acaba de entrar em vigor. Cabe aos educadores organizar as aprendizagens fundamentais da linguagem musical para que os alunos construam conhecimento crítico e sensível, para além da vivência de jogos musicais e das aprendizagens da escrita musical - que, evidentemente, integram um bom planejamento do ensino de música até o final do Ensino Fundamental.

A especificidade do trabalho no 1º e 2º anos 

Percepção e apreciação são palavras chave para o trabalho com o 1º e o 2º anos. Nas séries iniciais, as crianças percebem a música enquanto linguagem. Isso significa desenvolver a percepção auditiva com relação aos elementos básicos da linguagem musical: o pulso, o ritmo, o compasso e as notas musicais . Para isso, é fundamental trabalhar com a turma os quatro parâmetros do som: intensidade (sons fortes e fracos); timbre (que permite distinguir sons em uma mesma frequência ou em uma mesma intensidade - o som do violão é diferente do violino, por exemplo); altura (sons graves e agudos) e duração (sons lentos e rápidos).

Nessa fase, ofereça aos alunos diferentes experiências e coloque as crianças em contato com o nosso patrimônio musical. Atividades para ouvir e cantar cantigas de roda, temas do folclore nacional, internacional e clássicos da canção popular não podem faltar no planejamento. São momentos importantes para a formação do gosto e a construção do repertório dos alunos.

Por que ensinar?

A música evoca o sensível, as impressões. A formação musical dos alunos implica prepará-los para perceber a música (e o mundo) como manifestação da cultura e das potências humanas
Crianças ouvem música tocada pelo professor
A música, quando entendida como linguagem sonora, possui um "vocabulário" que é constantemente construído por diferentes sociedades, em diferentes épocas e lugares. Essa linguagem - que é uma linguagem artística - é o que nos permite compreender, muitas vezes, aquilo que a linguagem da fala não consegue explicitar. A música evoca nossos sentimentos, nossas impressões a respeito das coisas e sobre o nosso "estar no mundo". E é fundamental ter isso em mente quando for planejar as atividades de música na rotina da escola.

Fazer a formação musical das crianças, isto é, musicalizá-las, conforme o jargão da área, é desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que os alunos tornem-se sensíveis à música. Mais do que isso: quando planejamos um jogo, uma brincadeira musical ou uma atividade com instrumentos de percussão, para que a criança entenda o que é o ritmo, por exemplo, queremos, adiante, que ela seja capaz de criar sentido para aquilo que ouve. Podemos ir ainda mais além: queremos que este aluno consiga expressar-se por meio da linguagem musical - seja pela produção de sequências sonoras, seja pela apreciação e julgamento crítico daquilo que ouve. 

Quando ensinar?a

Atividades de audição, percepção e experimentação de sons não podem faltar no seu planejamento
Uma boa aula de música para os alunos do 1º e 2º anos inclui atividades de audição, percepção das variações sonoras e de produção musical (cantar, tocar, compor sequências rítmicas, improvisar sobre temas, relacionar música e dança etc.). É como uma espécie de tapeçaria, com o maior número possível de atividades, que possam ser organizadas adequadamente, formando uma trama perfeita, sem perder o fio condutor. Para a professora Ana Elisa Medeiros, das escolas Aubrick e See-Saw, em São Paulo, o trabalho com música deve ser realizado por pelo menos meia-hora durante duas vezes por semana. "Se as aulas forem realizadas apenas uma vez na semana, as crianças acabam esquecendo a letra das canções aprendidas na aula anterior e alguns dos combinados propostos", explica.

Na hora de planejar as aulas, além de partir do que as crianças já sabem a respeito da linguagem musical, é importante que você pense em como ampliar o repertório dos alunos, estimulando-os a fazer uma audição cada vez mais crítica das obras.

Os professores Vivian Agnolo Barbosa e Tiago Madalozzo, da Alecrim Dourado Formação Musical, em Curitiba, propõem que as aulas sejam estruturadas com uma atividade introdutória de saudação, seguidas pelas atividades de desenvolvimento (focadas nos conteúdos que se deseja ensinar). Para concluir, é possível propor algumas atividades de audição e uma despedida, que marca o fim da aula. Este "modelo" de organização pode te ajudar a planejar suas aulas  e foi criado de acordo com um estudo desenvolvido pelo grupo de professores responsáveis pelo projeto de Musicalização Infantil da Universidade Federal do Paraná.

A introdução consiste nas atividades de saudação e "limpeza de ouvidos": a aula pode começar com canções que evoquem os nomes dos alunos da turma ou temas cotidianos, para que a turma se concentre, aos poucos para o que virá a seguir. Você pode cantar para chamar a atenção das crianças, fazer com que elas cantem junto ou propor a audição de uma música tranquila.

Em seguida, temos o desenvolvimento da aula priopriamente dita: aqui entram as atividades de audição ativa (que ajudam a formar o gosto, ampliar o repertório e o senso crítico dos alunos); a apreciação de obras musicais de diferentes épocas e lugares; as atividades de percepção; a percussão corporal e com instrumentos; a apresentação de instrumentos musicais e da escala musical; a dança e as atividades de produção sonora, como o canto, por exemplo. Nem todas as atividades têm de acontecer em uma só aula. Você deve planejar de acordo com os objetivos que deseja alcançar com a turma. Não esqueça de oferecer às crianças, informações sobre a história da música no decorrer das aulas.

Para concluir, é importante propor atividades que sinalizem o término da aula, pois muitas vezes as crianças participam de jogos musicais e realizam atividades de produção sonora que as deixam eufóricas. Por isso, você pode propor uma atividade de relaxamento, com a audição de uma música tranquila, e todos podem cantar (ou ouvir) uma canção de despedida, que pode ser combinada com a turma.

O que ensinar?

• Música, cultura e repertório
• Apreciação e audição
• Percepção de variações sonoras
• Improvisos e composições (com a voz, com o corpo e com os instrumentos)

Como ensinar

Você sabe quando usar planos, atividades, sequências ou projetos?
Para preservar o sentido do conteúdo, evitar sua fragmentação e distribuir os temas em função do tempo de aprendizagem, o trabalho na pré-escola pode ser organizado de acordo com as chamadas modalidades organizativas. NOVA ESCOLA utiliza essa abordagem. Abaixo, você confere um resumo sobre cada uma das modalidades:

Plano de aula Forma de organizar o dia de aula com foco numa atividade específica (leitura exploratória de um texto, resolução de um tipo de problema matemático etc.). Como dura apenas um dia, costuma ser usado para apresentar um conteúdo ou explorar um detalhe dele.

Atenção Não se esqueça de incluir uma atividade diagnóstica inicial (para verificar os alunos sabem sobre o assunto) e uma avaliação final (para indicar o que aprenderam).

Atividade permanente Também chamada de atividade habitual, é realizada regularmente (todo dia, uma vez por semana ou a cada 15 dias). Ela serve para construir hábitos e familiarizar os alunos com determinados conteúdos. Por exemplo: a leitura diária em voz alta faz com que os estudantes aprendam mais sobre a linguagem e desenvolvam comportamentos leitores.

Atenção Ao planejar esse tipo de tarefa, é essencial saber o que se quer alcançar, que materiais usar e quanto tempo tudo vai durar. Vale sempre contar para as crianças que a atividade em questão será recorrente.

Sequência didática Conjunto de propostas com ordem crescente de complexidade. O objetivo é focar conteúdos particulares (por exemplo, a regularidade ortográfica) numa ordenação com começo, meio e fim. Em sua organização, é preciso prever esse tempo e como distribuir as sequências em meio às atividades permanentes e aos projetos.

Atenção É comum confundir essa modalidade com o trabalho do dia a dia. A questão é: há continuidade? Se a resposta for não, você está usando uma coleção de atividades com a cara de sequência.

Projeto didático Reunião de atividades que se articulam para a elaboração de um produto final forte, em que podem ser observados os processos de aprendizagem e os conteúdos aprendidos pelas crianças. Costuma partir de um desafio ou situação-problema. Trabalhados com uma frequência diária ou semanal, podem estender-se por períodos relativamente prolongados (um ou dois meses, por exemplo), tornando as crianças especialistas em um determinado tema.

Atenção O erro mais comum é um certo descaso pelo processo de aprendizagem, com um excessivo cuidado em relação à chamada culminância (a elaboração do produto final).

Planos de aula

Sequências didáticas


A composição, a interpretação e a relação entre música e outras modalidades artísticas podem ser organizadas na forma de sequências 
Os conjuntos de propostas com ordem crescente de dificuldade para as crianças no 1º e no 2º anos podem incluir atividades relacionadas à percepção das variações sonoras, às composições e às interpretações. Uma sugestão é planejar uma sequência didática que envolva a criação de células rítmicas, as escritas musicais combinadas e a improvisação com base nos ritmos trabalhados ao longo de várias aulas. Sequências didáticas que associam atividades de audição e apreciação musical à história da música e dos artistas também são bem vindas à rotina dos alunos, assim como as sequências de aulas que procuram relacionar música à dança ou música a outras manifestações culturais dos povos em diferentes épocas e lugares.

Lista de sequências didáticas
5.4.1 Poemas para cantar

O que trabalha Música, cultura e repertório; poemas musicados; apreciação de obras; canto.

Sequência Didática

5.4.1 Poemas para cantar

Introdução 
Nesta sequência de atividades, além de ampliar seu repertório musical, as crianças podem conhecer um pouco mais sobre a canção, uma composição normalmente curta, que combina melodia com poesia.

Objetivos 
- Ampliar o repertório musical das crianças
- Aprender a ouvir/apreciar músicas diversas
- Conhecer alguns poemas ou obras literárias musicadas
Ano
1 º ano
Conteúdos específicos
Escuta musical
Repertório musical
Poesia
Canções

Tempo estimado 
Um semestre

Material necessário 
Você vai precisar de alguns livros e de um aparelho de som.
Para a realização desta sequência, sugerimos algumas obras musicais com as características pedidas pela atividade:

CDs: A Arca de Noé - volumes 1 e 2 (poemas de Vinícius de Moraes), Universal; De Paes para Filhos, de Paulo Bi (poemas de José Paulo Paes), MCD Records; Quero Passear, do Grupo Rumo, Palavra Cantada; Canções dos Direitos das Crianças, diversos artistas, Movieplay. 

Avaliação

Até o final do 2º ano os alunos adquirem competências para desenvolver a percepção e a expressão por meio da música

Bater palmas no ritmo da música enquanto cantamos "Parabéns a você" é uma atividade que as crianças aprendem desde muito cedo. A grande questão do trabalho de formação musical nas séries iniciais é fazer com que as crianças percebam esse "bater palmas" como parte da estrutura de uma linguagem dotada de sentido - a linguagem musical. Para os educadores musicais Ricardo Breim e Hermelino Neder, da Escola Vera Cruz, em São Paulo, a aprendizagem da música como linguagem "é a única alternativa capaz de justificar a sua presença como inquestionável e insubstituível em uma formação integral do ser humano".

Com base no diagnóstico inicial de cada aluno - o que eles já sabiam a respeito da música no início do ano, as canções que sabiam cantar, o repertório que tinham, os instrumentos que conheciam etc. - observe se os alunos compreenderam os elementos básicos da estrutura sonora (o ritmo, o pulso, as notas musicais) e se eles são capazes de reconhecer os quatro parâmetros do som (altura, intensidade, timbre e duração). Esses são os primeiros passos para que consigam desenvolver uma audição cada vez mais ativa e para que possam expressar-se por meio da música.

Analise o desenvolvimento dos alunos ao longo das vivências musicais propostas nas aulas, de acordo com a forma como passam a julgar as obras que escutam; pela participação nos jogos musicais e nas apresentações da turma; e pela forma como organizam e produzem sequências sonoras (improvisadas ou combinadas com o grupo). Tenha em mente que o principal conteúdo da linguagem musical é o próprio sentimento, são as impressões e as emoções das crianças.

Para uma observação mais detalhada dos avanços da turma, você pode gravar algumas aulas em áudio ou vídeo, ou ainda, construir um portfólio com as atividades desenvolvidas pelos alunos ao longo do ano (as escritas combinadas, as composições, as fotografias das atividades que envolvem a execução de instrumentos e o canto etc.).

Leve em conta, também, o planejamento das suas aulas. Elas têm uma estrutura bem definida, com objetivos claros e apresentados para os alunos? Há momentos para que as crianças tenham a oportunidade de cantar, dançar, tocar instrumentos e ouvir obras que contribuam para a formação do gosto musical e a ampliação do repertório? Você trabalha com diferentes agrupamentos da turma ao longo das atividades - atividades individuais, em pequenos grupos ou em uma roda com a turma toda? É imprescindível que as aulas agreguem experiências e aprendizagens aos alunos e é a sua experiência em sala que vai determinar o momento certo de passar de uma atividade à outra.

Sempre que necessário, retome as expectativas de aprendizagem explicitadas nesse roteiro no item 3 (o que ensinar). Os conhecimentos adquiridos pelas crianças até o 2º ano são fundamentais para que, nas séries seguintes, elas consigam se expressar pela música de formas cada vez mais criativas, tenham uma percepção aguçada dos elementos musicais e, assim, estejam preparadas para aprender a notação musical formal, que está ligada à possibilidade de execução de instrumentos cada vez mais complexos.


Fonte; http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/musica-1o-2o-anos-640283.shtml?page=6

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